Connect with us



Agricultura

Produção comercial de perus no Brasil cai 63% em dez anos

Publicado

em

A produção comercial de perus no Brasil caiu 63,3% em dez anos, segundo dados divulgados em dezembro pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) relativos a 2022. Em 2012, o país produzia 442 mil toneladas e no ano passado fechou com 162,27 mil toneladas.

A redução de quase 280 mil toneladas ocorreu por três fatores, segundo Elsio Antonio Pereira de Figueiredo, pesquisador da Embrapa Aves e Suínos: doenças (a criação de perus é mais suscetível a doenças do que os frangos), barreiras internacionais de exportação e concorrência de outras carnes mais baratas com frango e suínos.

As exportações que somaram 179 mil toneladas em 2012 também tiveram forte recuo, atingindo seu menor patamar em 2019, com 38 mil toneladas. Iniciaram no ano seguinte uma recuperação lenta que vem se mantendo nos últimos anos. Em 2022, fecharam com 59 mil toneladas.

Neste ano, de janeiro a novembro, os embarques, segundo a ABPA, somaram 65.622 toneladas, um aumento de 17,7% em relação ao mesmo período de 2022. A receita também cresceu nos 11 meses: passou de US$ 180.372 mil para US$ 192.519 mil.

Luiz Ruas, diretor de mercados da ABPA, explica que as exportações à União Europeia costumavam ser o termômetro para a produção nacional de peru. Por isso, quando o bloco deixou de importar a proteína em 2017, o Brasil passou de uma produção de mais de 300 mil toneladas para as atuais 162 mil toneladas.

“Chegamos a exportar 120 mil toneladas de carne de peru para a Europa”, afirma o diretor.

Segundo ele, agora, existe a expectativa de que o mercado europeu volte a adotar o sistema de pre-listing para frigoríficos brasileiros, que desburocratiza a exportação, dispensando a necessidade de habilitação e inspeção individual de cada unidade. Caso o movimento se confirme, ele avalia que a produção de peru pode voltar a crescer significativamente.

“Ainda não temos um consumo de cortes muito difundido. BRF e Seara estão tentando popularizar os cortes, mas ainda é um mercado muito pequeno”, reforça Rua.

Para comparar, o Brasil produziu no ano passado 14,524 milhões de toneladas de carne de frango e exportou 4,8 milhões de toneladas. No caso da carne suína, a produção atingiu 4,983 milhões de toneladas e os embarques somaram 1,120 milhão de toneladas.

Custo alto

Segundo o especialista da Embrapa, a produção de peru é mais difícil e mais cara que a de outras aves porque exige duas etapas: recria e terminação. Os produtores integrados que fazem a recria de 26 a 28 dias precisam ter granjas com altíssima tecnologia de controle ambiental, alimentação e saúde para manter as aves saudáveis, com galpões diferentes para machos e fêmeas. Depois, os perus vão para outra granja para atingir o peso ideal para o abate.

Os aviários têm geralmente 100 metros x 12 m e os mais modernos têm 125 m x 12,8 m. A estrutura é de concreto, com telas laterais e telhado de lâminas de alumínio. A ração é composta basicamente por milho e farelo de soja complementados com uma mistura de minerais, vitaminas e outros ingredientes. Existem 8 fórmulas de dietas para as várias fases da vida da ave.

O plantel brasileiro de matrizes de perus é de aproximadamente 100 mil cabeças. Quase 65% da carne de peru produzida no Brasil fica para o consumo interno.

Indústria

A BRF tem duas plantas industriais no sul do país, em Francisco Beltrão (PR) e Chapecó (SC). A unidade paranaense fechou em 2018 com o fim das exportações para a Europa e foi reativada em 2021.

Segundo Fábio Stumpf, vice-presidente de Agro e Qualidade da multinacional, a paralisação teve como objetivo a adequação da estrutura à demanda do mercado e a melhor alocação de recursos. Na retomada, a empresa anunciou investimento de R$ 292 milhões em modernização e ampliação de suas unidades no Paraná.

“Atualmente, a unidade de Francisco Beltrão tem uma produção de perus com volumes estratégicos”, diz o executivo, sem revelar números de produção ou exportação.

A genética dos perus comerciais é 100% importada e está concentrada em duas linhagens. A BRF possui uma cadeia completa com produção própria de avós no Paraná e de matrizes nas unidades de Chapecó e Francisco Beltrão.

Os conceitos de biosseguridade nos aviários, diz o executivo, são os mesmos para frangos e perus. Mas, por se tratar de uma ave de ciclo mais longo, e também para a obtenção de um sistema competitivo e rentável para a produção e exportação, são necessárias medidas que possibilitem a identificação e a redução de riscos à saúde dos plantéis de peru.

“O foco em qualidade deve ser um dos principais indicadores da cadeia. A produção de lotes de qualidade está atribuída a um ambiente adequado que envolve temperatura, umidade e qualidade de ar adequadas para atender as exigências das aves, além de um programa nutricional que envolve nutrientes com qualidade e um programa eficiente de prevenção que contemple biosseguridade e controle de outros patógenos”, afirma Stumpf.

*Colaborou José Florentino, de São Paulo

Uniguaçu